Por que é tão difícil viver o momento presente? Estamos sempre lembrando algo do passado, ou projetando o futuro. Não é exagero dizer que a maioria de nós está descompassada com o tempo vivido. Poucos de nós estão realmente vivenciando e aproveitando o presente.
Isto se dá porque a maioria de nós está vivenciando as situações pautadas em expectativas. Nem sempre o investimento de energia e afeto às situações presentes tem real conexão com o que é vivido. Tudo vai depender de nosso psiquismo, ou melhor, de nosso estado emocional.
Certamente você já ouviu dizer que o “deprimido tem excesso de passado”, o “ansioso tem excesso de futuro”, mas, em contrapartida, quem vive o presente está em paz. Todos nós temos um tipo de funcionamento psíquico, uns mais deprimidos outros mais ansiosos, o que não quer dizer que tenhamos algum tipo de patologia, mas mostramos algum tipo de reatividade aos estímulos e vivencias do cotidiano. Isto faz com que as vivencias presentes sejam sempre relacionadas às expectativas traçadas de acordo com este tipo de funcionamento psíquico.
É bastante comum vivermos cada dia com a sensação de que é apenas um caminho para chegar a algo. Nossa sociedade se organiza assim, nosso calendário se organiza assim. Caminhamos em direção à próxima semana, ao próximo feriado, ao próximo mês, ao aniversário, ao fim do ano, às férias etc. Mas todos os dias são iguais, não é mesmo?
Se nos livrássemos destas contagens de tempo, como seria? Libertador, não é mesmo? Seria bom se acordássemos e pensássemos: “apenas por hoje”. Mas temos contas a pagar, filhos para criar, aposentadoria para pensar e pensar no envelhecimento. São estes os pensamentos que nos dão a sensação subjetiva de que vamos chegar a algo. Porém há detalhes da natureza humana muito significativos, que são: o desejo e o prazer em fazer as coisas. Isto mobiliza para as realizações sem expectativas de gratificações. Isto é o que mobiliza as ações humanas. Seria profundamente angustiante se nossas realizações fossem apenas pautadas em benefícios externos, ou em cumprir um calendário. O desejo e o prazer nos mobilizam e motivam.
A estranha realidade é que muitos de nós se vê preso em um espiral de realizações e expectativas que impede desfrutar os momentos presentes.
A primeira coisa que as pessoas precisam para viver o agora é libertar-se de uma autocrítica exagerada. Muitas vezes a crítica bloqueia e impede que as pessoas tenham vivencias plenas. O primeiro passo então é dominar os pensamentos limitadores da crítica severa. É incrível pensar nisso, mas a primeira grande sabotagem que nos atira em direção a um mar de expectativas é a nossa autocrítica. Isto muitas vezes faz as pessoas adiarem infinitamente realizações ou não desfrutarem plenamente as vividas.
O segundo passo é parar de se preocupar com que os outros pensam ou render-se à sedução de verificar a aprovação deles através dos inúmeros recursos das redes sociais. Preocupar-se demasiadamente com o que o outro pensa é um sinal de que sua autoestima anda em baixa e ocupar este espaço com uma busca frenética de aprovação não irá melhorar nada.
Terceiro passo: pare de ser multitarefa! Ser multitarefa e fazer muitas coisas ao mesmo tempo invariavelmente te levará à angústia. Impossível vivenciar o presente sendo multitarefa. Se você puder dar significado a cada pequena ação que estiver fazendo irá se reconectar ao seu prazer. Muitas vezes estamos realizando uma ação e pensando em outra. Aprenda a realizar uma tarefa por vez e sentir pleno prazer ao concluí-la.
Quarto passo: dê atenção ao seu corpo e aos sentidos dele. Se você estiver comendo, sinta o aroma, o paladar, desfrute. Se você estiver fazendo ginástica, dê atenção aos seus movimentos e músculos. Se você estiver escrevendo no computador, ou ouvindo música, conecte-se por inteiro nesta ação. Todas as suas ações partem de seu corpo, mas infinitas vezes durante a realização dos seus atos, você não percebe. A sua conexão com os fatos do presente depende muito deste instrumento, que é o seu corpo.
Quinto passo: respire! A respiração tem o poder de te trazer concentração e bem-estar. Ela está profundamente relacionada às emoções. Aprenda a respirar profundamente e durante seu dia pratique muito esta forma de respirar, focando sua atenção no ar que entra pela sua narina e sai pela boca lentamente. Toda vez que quiser conectar-se ao presente, respire profundamente! Você só está aqui e agora porque está respirando, não é mesmo?
A regra de ouro para viver o agora é desenvolver a concentração. Acho que isto resume tudo, mas também vai depender de todos os passos anteriores.
Procure concentrar-se em tudo o que estiver fazendo. Volte sua atenção e procure sustentar esta atenção de modo que você consiga se concentrar em todos os detalhes da vivência.
Exercite a contemplação diariamente! Você não precisa de um magnífico pôr do sol. Simplesmente, escolha um ponto e contemple! Aproveite para exercitar todos os passos anteriores.
Mas o que fazer se o momento for de dor? Se no presente há algum sofrimento? A regra do viver e focar no agora vale para estes momentos?
A resposta é sim!
Com base em tudo o que foi dito acima, focar-se no presente é um caminho para ser mais resiliente e superar obstáculos. A dor e o sofrimento exigem uma grande dose de aceitação. Enquanto você estiver lutando com este sentimento estará desgastando boa parte da energia que precisa para este momento! Não é fácil, mas tentar viver apenas o momento pode reduzir imensamente a angústia e medo.
Ana Paula Cuocolo Macchia
CRP 06/31957-6
Psicóloga pela Universidade Metodista de São Paulo.
Neuropsicóloga pelo Hospital das Clínicas – Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Especialista em Terapia Cognitivo Comportamental pelo CETCC.
Formação em Terapia do Esquema pela WAINER
Psicopedagoga Clínica e Institucional pela Universidade Metodista de São Paulo.
Especialista em Aprendizagem pela Faculdade de Medicina do ABC.
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